Ao longo do ano de 2012, a grande preocupação de advogados,
contadores e de empresários era como se adaptar à nova forma de
recolhimento de PIS e Cofins, o EFD-Contribuições, dentro do Sistema
Público de Escrituração Digital (Sped). Os primeiros obrigados, que
são grandes empresas integrantes do lucro real, já estão entregando
os impostos pelo novo layout da Receita Federal. E em 2013 é a vez
dos integrantes do lucro presumido, o que inclui pequenos
estabelecimentos, de se preocuparem com esse sistema.
Para especialistas entrevistados pelo DCI, o número de retificações
- erros que precisam ser corrigidos - deve crescer neste cenário e
gerar mais custos, principalmente para essas empresas com baixo
faturamento.
"Em 2013 teremos o início da obrigatoriedade da EFD-Contribuições
para empresas do presumido e do setor financeiro. Com o ingresso das
primeiras, passaremos a ter um novo batalhão de empresas impactadas
diretamente pelo Sped, muitas delas precisando de recursos
tecnológicos e pessoas preparadas para esse novo ambiente", aponta
Fabio Rodrigues de Oliveira, diretor da Systax inteligência Fiscal.
Para Vagner Jaime Rodrigues, sócio da Trevisan Gestão & Consultoria
(TG&C), um dos problemas é que as empresas, principalmente as
pequenas, não davam a devida importância para a contabilidade
societária. "Agora, o Sped vai pedir todos os detalhes dos itens os
quais o PIS e Cofins devem ser recolhidos pelo empresário", diz.
De acordo com um dos especialistas em Sped, Roberto Dias Duarte,
professor de pós-graduação da PUC-MG e do Instituto IPOG, um exemplo
de que as empresas, principalmente as menores, terão dificuldades em
se adaptar ao sistema é a falta de preparo desses empresários.
"Dados [coletados pelo especialista] mostram que após as entradas
das empresas do lucro real, o percentual de retificações do total de
informações transmitidas para o EFD-Contribuições dobrou de março
para setembro de 2012, ao passar de 3% para 6%, o que mostra o nível
de preparo", exemplifica Dias Duarte, ao acreditar que de forma
semelhante acontecerá com quem é integrante do lucro presumido,
quando mais de 960 mil empresas passam a ser obrigadas. Em março
foram 144,7 mil envios, em setembro foram 161,3 mil.
"A questão é que muitos empresários têm contabilidade terceirizada,
o que dificulta essa comunicação. É possível imaginar que quando
entraram essas empresas no EFD Contribuições, de cada 100
informações transmitidas, seis serão retificadas", prevê o
especialista em Sped.
Também neste ano, outra nova forma de entrega à Receita Federal,
desta vez, do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS) não deve dar folga para o grande empresário. Segundo Marco
Gomes, diretor técnico da MG Contécnica, o nível de detalhamento é
muito maior. "Já temos empresas que estão passando por essa
adaptação e enfrentam dificuldades. Isto, porque precisa registrar o
código de barra por unidade, o valor do tributo recolhido, informar
o estoque. E imagina um pequeno estabelecimento que tem 10 mil itens
e não é informatizado, o que isso vai gerar depois?"
Segundo ele, um custo para essa adaptação pode chegar a R$ 12 mil.
"Um meio adequado é como fizemos com relação ao PIS e Cofins, é
trabalhar de forma conjunta: setor de contabilidade, empresas de
sistema e clientes, com palestras e treinamentos a eles, sem
repassar o custo que tivemos para esse trabalho", informa.
Intensidade
O sócio da TG&C avalia que o fato da Receita estar aumentado o
grau de exigências no âmbito do Sped não é uma novidade. As
previsões são de que terá um Sped para mudar a forma recolhimento
dos impostos na folha de pagamento, e até para o Imposto de Renda de
Pessoa Jurídica (IRPJ).
"Desde que esse sistema foi lançado, a Receita deixou claro que é um
sistema abrangente. E que será uma realidade para todos,
independentemente do porte. Os empresários precisam perceber que o
Sped é uma oportunidade para melhorar sua gestão", diz. "Esse
sistema vai fazer com que a fiscalização aumente e as sonegações
diminuam, e deixe os bons pagadores mais tranquilos, porque ao invés
de receber autos por erros cometidos há cinco anos, como era no
passado, vamos receber autos num prazo mais curto", acrescenta o
sócio da consultoria TG&C.
Roberto Dias Duarte comenta que o empresário brasileiro precisa
mudar a cultura, que é o mesmo que aconselha Marco Gomes. "Nossos
clientes já começaram a entender mais de tributos e aumentou até seu
nível empresarial", avalia o diretor-técnico da MG Contécnica. "Nos
últimos 10 anos, entidades, como o Sebrae, veem alertando que o
empresário não deve somente pensar em vender e comparar, tem que
gerenciar melhor isso. E com o Sped, essa nova mentalidade é
necessária", acrescenta Dias Duarte.
Fonte: DCI – SP