O uso de eletrônicos (realmente) pessoais tem tornado cada vez mais
difícil a missão de saber o que os filhos fazem na internet. Para
piorar a situação, as crianças têm usado aplicativos de comunicação
cada vez mais restritos, deixando os adultos fora da conversa.
Apesar de estarem no Facebook (onde seus pais também têm conta), a
conversa entre os mais novos ocorre principalmente em apps de
comunicação privados, como WhatsApp e Snapchat.
Esse processo foi
gradual. Antes, os computadores eram instalados no ambiente
doméstico em áreas de livre acesso. Com o tempo, os dispositivos
entraram no quartos das crianças. Mais recentemente, os PCs
"encolheram" e viraram smartphones ou tablets, que vão direto para
os bolsos e mochilas dos pequenos.
"As estatísticas mostram que cada vez mais as crianças usam
tablets e celulares. E esse uso privado escapa do domínio dos pais",
explica Rodrigo Nejm, diretor de prevenção da Safernet, ONG
(organização não governamental) que trabalha na promoção de direitos
humanos na internet.
Segundo o levantamento TIC Domicílios, feito pelo Cetic.br
(Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da
Informação), a segunda faixa etária que mais navega na web por
smartphone vai de dez a 15 anos (45%), só perdendo para a faixa de
16 a 24 anos (61%).
Para tentar solucionar esse "ponto cego" com os filhos, alguns
pais optam pela restrição total no uso de aparelhos. No entanto,
segundo especialistas, isso pode ser pior, pois as crianças darão
algum jeito de burlar as imposições.
Como lidar
Não há uma fórmula pronta de como lidar com o que os filhos fazem
no ambiente (virtual) privado. No entanto, há diretrizes que os pais
podem seguir para auxiliar seus filhos no universo digital, durante
essa fase de transformações - as dicas para aplicativos restritos
são bem parecidas com aquelas válidas para computadores.
"O melhor a fazer é ajudar os filhos a criarem uma consciência
crítica sobre como devem usar eletrônicos e redes sociais", explica
Nejm.
Para ele, os pais, mesmo que não tenham conhecimento de
tecnologia, devem estar próximos aos filhos. "Nenhum pai deixaria
seu filho sozinho em uma praça, sem ter certeza de que ele consegue
discernir os perigos. O mesmo ocorre com a rede. Os filhos devem ter
noção que o conteúdo postado ou compartilhado pode ficar lá para
sempre."
A psicóloga Katty Zuñiga, do NPPI (Núcleo de Pesquisa da
Psicologia em Informática) da PUC-SP, reforça a importância de
alertar para os perigos e ficar perto dos filhos. No entanto, ela
ressalta que esses jovens devem ter seu espaço próprio respeitado.
"A adolescência é uma fase de construção de identidade, um momento
em que ocorre certo distanciamento dos pais", comentou a psicóloga.
Para Katty, os adultos devem trabalhar para estabelecer uma
relação de confiança com os filhos, o que envolve limites no uso de
tecnologia. Essa tarefa traz a obrigatoriedade de os pais proporem
atividades para passar tempo com os filhos, como ir a um parque,
fazer exercícios ou praticar algum hobby que as crianças também
gostem de fazer.
"Quando existe confiança, os filhos naturalmente comentam. Nessa
hora, os pais têm de tomar cuidado para não criticarem. É preciso
saber ouvir, envolver-se, entender e conversar", explica.
Essa forma de agir tem dado resultado com a professora Kellen
Bittencourt, 43. Ela diz que a proximidade com a filha de 14 anos
tem ajudado a saber mais sobre a vida digital da garota. "Ela mesma
pede ajuda em alguns momentos. Em época de prova, por exemplo, ela
me entrega o celular e pede para que só devolva o dispositivo após
determinado horário", explicou.
A professora explica que tenta fazer um trabalho de
conscientização com a filha, mostrando que a vivência exagerada do
ambiente virtual pode trazer graves consequências. A mãe também
incentiva que ela faça outras atividades, como praticar esporte ou
aprender uma língua.
"Se os pais não procurarem fazer parte do universo desse filho,
apenas restringir não vai surtir efeito. Hoje em dia os pais proíbem
as crianças, mas acabam ficando longe dos filhos", disse.
Fonte: UOL